No dia 14 de maio de
2012 numa segunda feira a sobrinha do meu marido vai casar. Eu poderia ir no domingo, pois geralmente trabalho no sábado e voltar na
quinta-feira para retornar minhas atividades como florista no fim de semana. O melhor então seria viajar de avião, uma
viagem rápida de duas horas e meia .Imaginei a experiência para Filipe de estar lá em cima , vendo o infinito céu azul com suas nuvens branquinhas! Mas será como Filipe ia se comportar? Segundo uma pesquisa 4 entre 10 pessoas tem medo de viajar de avião. E o autista?
Vim na internet comprar as passagens, estava com muita
vontade ir, pegar o sol de Maceió e suas praias lindas, enfim viajar, descansar
um pouco a cabeça e relaxar com Filipe e minha família nesta cidade maravilhosa
de águas quentes e cor de esmeralda.
Antes de comprar as passagens de avião , vim pesquisar na
internet como é viajar com um paciente
com necessidades especiais, no meu caso o autismo.
Fiquei muito
desanimada,desapontada ,triste com minha pesquisa :
*Nos vôos nacionais e internacionais não existe um médico à
bordo na companhia para atender ocorrências de emergência.
*Não existe
funcionários preparados no vôo,para dar
assistência aos autistas , caso se estressem e fiquem ansiosos com o vôo.
A gente sabe que isto pode acontecer,
pois eles não gostam de mudar suas rotinas, e muito menos experimentar viajar
de avião , uma situação que eles não podem controlar. Este controle ficaria por conta e risco dos
pais, com a devida medicação do médico do
autista.
*Não podem viajar pessoas que tenham convulsão, ao menos que
seu médico se responsabilize por ele e sua medicação e garanta que a crise não vá
ocorrer durante o vôo.
*Pacientes com transtornos de ansiedade que não estejam em
tratamento.
As crises de
convulsão de Filipe são precipitadas pela ansiedade. Ele não consegue se
expressar e dizer que está muito ansioso e com medo. Então o corpo fala na
forma da convulsão. Isto aconteceu na viagem que fiz de carro para Maceió. Eu o
havia preparado para esta viagem. Conversei muito com ele, sobre as alegrias de
conhecer novos lugares, praias novas, rios, coisas que ele ama. A distancia
percorrida e a volta. E frisei várias vezes , se ele quisesse voltar, eu voltaria a qualquer hora que ele quisesse. Levei os seus bonecos, que são como uma espécie
de calmante, amigos imaginários. Mas mesmo assim, ao chegar na ponte Rio Niterói
, Filipe deu uma convulsão no pedágio da ponte. Médicos da Ponte que ficam no
acostamento da Cancela, correram para atendê-lo. Medicado, perguntamos pra ele
se desejava ir para Maceió. Escreveu que sim. Eu sei que ele queria muito, o
problema era o medo que sentia do desconhecido. Iniciamos a viagem de novo , e novamente em
Campos, 180 km depois, outra convulsão.
Pensamos em voltar para ele não sofrer mais, mas eu decidi
continuar para dar a ele uma oportunidade de viver plenamente a vida.Eu tinha
de ajudá-lo. Tinha de correr o risco. Dei um calmante pra ele e ele dormiu até
em Vitória, onde paramos para dormir também.
Bem cedinho no dia seguinte, iniciamos a viagem em direção a
Maceió. Não aconteceu mais nenhum caso de convulsão felizmente. Eu orava muito
ao Meu Deus Verdadeiro todo o instante da viagem que foi linda. Filipe e nós conhecemos muitas praias e lugares bonitos e fomos até a divisa de Pernambuco, nas praias de Maragogi . Toda noite dava um calmante
pra ele, que foi retirado aos poucos na volta. Filipe não usa calmantes, não é
agressivo.
Estou
triste por meu filho ter tantas limitações. Não poder viajar de avião. Eu e meu marido ficamos também
impossibilitados de viver plenamente a vida .Poderíamos ir sem o Filipe.
Como viajar e deixar ele em casa? Não ia ficar feliz assim.
Para ele ir com segurança o Hospital do Exército que é
responsável por ele deveria mandar um médico para acompanha-lo na viagem. Mas
eles não vão fazer isso nunca. Não tenho dinheiro para pagar um médico
particular para fazer isso.
Enfim por aqui vemos como é limitado a vida de um autista. E
como são tratados por aqueles que deveriam lhes dar assistência. Imagino a vida
de um autista no interior deste Brasil.
Eu como mãe que fico aqui falando na net, não consiguo nada,
imagina estas mães com seus meninos e meninas autistas sem assistência. Mais
que falta de assistência é falta de humanidade dos nossos governos para com
criaturas tão frágeis e indefesas como os autistas.
Se alguém viaja com
seu filho autista de avião, por favor deixa sua mensagem aqui.
Ficam as perguntas:
Autistas não tem direito de viver plenamente a vida?
Não tem direito de viajar de avião?
Sinceramente, quero descer quero sair deste vôo de injustiças.
Ray